II
Marcha Pride Açores “Não desapareças da paisagem”
É preciso juntar forças
e movimentos contra as opressões e as desigualdades que produzem efeito e
impacto na vida social e económica, na vida privada e na intimidade e na forma
como nos vimos...
Cada
dia do Festival Pride Azores 2013, no qual pudemos participar, foi uma
oportunidade de captar e aprender algo novo, no mundo LGBT, e da diversidade
humana.
Oportunidade
de refletir, neste poço de contradições que constituem as práticas de
discriminação e as mentalidades baseadas
em preconceitos que retiram liberdade e bem estar nas vivências individuais e
coletivas, nomeadamente no campo das sexualidades.
Quem,
nos Açores e noutros cantos do mundo, conhece e vive estas realidades, consegue
perceber quanto é importante o direito das pessoas viverem bem, sendo elas
próprias, felizes consigo e com as outras pessoas: a família, amigos e amigas e
a sociedade em geral
No
início do Festival, alguém[1] falava
de “uma crescente onda de aceitação, tolerância e respeito pelos direitos da
comunidade LGBT”. De facto podemos afirmar que o movimento LGBT” tem vindo a
crescer também nos Açores. O Festival, a Marcha e a associação Pride Açores tem
vindo a contribuir decisivamente para este avanço.
Neste
movimento fala-se de orgulho[2]: o
orgulho que significa não ter mêdo, não ter medo do que se é, não ter medo de
quem nos discrimina. Não ter mêdo nem receio de quem nos possa humilhar, nos
desprezar ou desvalorizar - por sermos mulheres, sermos gays, ser lesbicas,
vestirmo-nos ou falarmos desta ou daquela maneira. Não ter mêdo, seja qual for
nossa origem cultural, país ou região, seja qual for a cor da nossa pele.
Vale
a pena lembrar Luter King que este há 50 anos
lançou um grito, numa frase hoje conhecida e reconhecida: eu tenho um
sonho! Ousar sonhar é um valor humano e direito de cada pessoa!
-Mas
afinal donde vem as discriminações?
Enfrentar as discriminações sem nos machucar, passa
também por refletir as suas causas e dar-lhes combate
Nesse sentido é importante o trabalho de educação
desenvolvido por diferentes organizações.
Nesse sentido tem particular importância o trabalho
e a existência da Pride Azores como associação de referência, LGBT, no campo da
igualdade. É uma associação que merece o nosso respeito e apoio.
Usando as palavras de alguém[3] no
decorrer do Festival, podemos dizer que
a Pride Azores é uma associação de referencia para “as pessoas LGBT mas
também todas as pessoas que trabalham dia a dia para viver num mundo mais
respeitoso, livre e inclusivo”.
No decorrer do Festival também se falou do
patriarcado - sistema que utiliza a sexualidade como poder, estruturado-se numa
base de hierarquia do masculino heterosexual, de dominação sobre as mulheres e
sobre as pessoas que não sejam heterosexuais. Esse sistema, patriarcal, deixou
marcas e perdura ainda na sociedade capitalista atual.
Antes de finalizar
Gostaria de partilhar um episódio decorrido há
alguns anos atrás no meu ativismo femisnista nos Açores.
Um dia, num encontro com temas gerais, falei
sobre o problema da discriminação sobre as mulheres existente na sociedade, na
vida pública e na vida privada, incluindo a violência doméstica...
No final do encontro alguem veio ter comigo e
disse me que “quanto menos se falasse sobre o assunto melhor” e que com o tempo
esses problemas iam passar. Foi uma conversa que me apanhou de surpresa, então
e registei na memória, prosseguindo, é claro, do lado da denúncia das
discriminações.
Passados vários anos sobre esse episódio, a
vida demostrou que a denúncia sobre a dismiminação feminina foi uma componente
impulsionadora da promoção da igualdade, neste caso a igualdade de género ou
seja a igualdade de direitos e oportunidades entre mulheres e homens.
No que diz respeito à discriminação em função
da orientação sexual, no que diz respeito à homofobia, parece haver ainda
muitas pessoas que hoje, também consideram que não se deve falar do assunto...
mas a verdade é que a denúncia desta
discriminação, como as outras discriminações é um importante meio de a
combater, neste caso combatendo a homofobia nas atitudes e mentalidades.
Por fim dizer que
Esta marcha este
festival pride azores, que é também um momento de celebração, constitui mais um
passo, aqui, nos Açores, pelo fim das violências e das discriminações incluindo
a homofobia
Neste movimento
estamos a reconhecer a igualdade e os
direitos humanos para todos e todas incluindo os direitos LGBT.
Clarisse Canha
31 de Agosto de 2013